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A resistência ao simbólico

A resistência em usar símbolos — como sonhos, intuições ou até mesmo métodos como o Tarô — como ferramentas para entender a condição humana tem raízes profundas. Tudo começa com uma espécie de distanciamento entre duas formas de enxergar o tempo e a realidade: uma linear, focada em causa e efeito, e outra mais misteriosa, que vê conexões entre eventos aparentemente aleatórios.


Por um lado, temos o tempo causal, aquele que a ciência ocidental adora. Nele, tudo é uma sequência lógica: se você tem uma dor de cabeça, procura uma causa física — falta de sono, estresse, um vírus. É um pensamento prático, que busca respostas no que pode ser medido, pesado ou visto em um exame. Funciona como uma linha reta: A leva a B, que leva a C. Se algo não se encaixa nessa lógica, é descartado como "sem sentido".


Por outro lado, existe o tempo sincronístico, um conceito que Carl Gustav Jung explorara. Aqui, o acaso não é só acaso. Dois eventos podem acontecer ao mesmo tempo, sem uma ligação óbvia de causa e efeito, mas carregam um significado profundo quando vistos juntos. Imagine sonhar com um rio turbulento e, no dia seguinte, descobrir um problema no seu sistema circulatório. Para a mente causal, isso é coincidência. Para a sincronicidade, talvez seja a linguagem própria do corpo, que criamos distâncias com o pragmatismo positivista.



Marie-Louise Von Franz, em seus estudos, mostrou como sistemas como o I Ching ou a astrologia trabalham com essa ideia. Eles não seguem a lógica do "um mais um é dois", mas sim a de que certos padrões — mesmo aleatórios — podem revelar verdades próprias da psique. Na medicina tradicional chinesa, por exemplo, um desequilíbrio emocional pode ser tão relevante para um diagnóstico quanto um sintoma físico, sem que se crie separação entre a manifestação do corpo e da mente. Sonhos não são apenas imagens aleatórias:é a estruturação da linguagem própria do inconsciente, que podem apontar para questões mais complexas.


Mas por que é tão difícil aceitar isso? Parte da resposta está no preconceito contra o que não cabe em números. A ciência moderna, mesmo com suas incríveis conquistas, muitas vezes trata o subjetivo como "menos real". Se não dá para colocar em uma planilha, reproduzir em laboratório ou explicar com uma equação, vira suspeito. Além disso, há um medo de parecer "irracional" ao levar símbolos a sério — como se isso fosse um retrocesso ao pensamento mágico.



Por trás dessa resistência, há uma ironia: a própria física já mostra que o universo é mais estranho do que imaginamos, com partículas que se comunicam instantaneamente a distância. A sincronicidade, nesse sentido, não nega a ciência, mas propõe que existem outras camadas da realidade, permitindo que tenhamos maior flexibilidade com a tentativa de entendermos a vida.


No fim das contas, a discussão não é sobre abandonar a lógica, mas sobre expandir nosso olhar. Aceitar que um sonho pode ser tão revelador quanto um exame de sangue não é fraqueza: é reconhecer que somos feitos de histórias, símbolos e conexões que a razão ainda não domina. E talvez nunca domine, já que são de naturezas distintas. E talvez, nesse meio-termo entre o concreto e o invisível, esteja a chave para entender a saúde — e a vida — de forma mais completa.


 

Caetano Grippo (@caetano.grippo) é cineasta, escritor, artista plástico e coordenador do Espaço Rasgo. Formado pela Academia Internacional de Cinema e pela Belas Artes, acumula quase duas décadas de experiência como artista multidisciplinar.

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