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Foto do escritorCaetano Grippo

Big Brother Brasil

Nosso processo de aprendizado ocorre através da imitação. Nossas primeiras palavras são aquelas repetidas inúmeras vezes na nossa presença. Uma criança adora repetir os palavrões que os pais mais utilizam. “Onde foi que ela aprendeu isso?”. A resposta me parece um pouco óbvia.


No início da invenção do cinema, encontramos relatos de histórias que ocorreram nas primeiras salas de projeção, como por exemplo: algumas pessoas tossiam ao ver alguém fumando em cena. Outras não reconheciam pessoas que haviam morrido durante uma cena de perseguição e quando apareciam algum tempo na vida real, eram tratadas como fantasmas. Se não entendemos os mecanismos de funcionamento de uma tecnologia, nosso imaginário se torna refém do que é projetado em tela. Jean-Claude Carrière narra essas histórias iniciáticas do cinema no seu brilhante livro A Linguagem Secreta do Cinema. Indico a leitura.


Quando fazemos críticas a programas de televisão onde pessoas confinadas reproduzem sempre o mesmo tipo de intrigas - ou criticamos o enredo de novelas com personagens que sempre vivem o mesmo tipo de situações, sendo extremamente reativos - estamos falando de uma fonte de construção imaginária de um coletivo que, muitas vezes, passará a reproduzir exatamente os comportamentos e os raciocínios desses personagens.


Se o espectador não toma dimensão dos significados daquela produção audiovisual que está a sua frente, sua tendência é se apropriar de costumes, gestos, manias e hábitos daquelas pessoas que estão sendo apresentadas naquele universo de ficção. E embora exista a palavra ‘realidade’ no que definimos como Reality Show, aquilo é tudo, menos realidade.


Quando alguém aparece criticando como as novelas são construídas ou como as intrigas entre personagens de um reality show são instigadas e manipuladas pela direção de um programa, este crítico pode estar falando de estruturas praticamente invisíveis, que somente um profissional desta linguagem audiovisual poderia trazer à tona. Até mesmo um bom psicólogo. Estou falando do conceito de alienação, do quanto ficamos alheios ao verdadeiro sentido de algo que desconhecemos e passamos a aceitar suas verdades sem antes tentarmos entender o que está em jogo.

Acredito que as convivências hoje estão brutalmente afetadas por esse tipo de narrativas simplistas. Embora as novelas tenham perdido força, muitas séries, principalmente nacionais, reproduzem esse tipo de relações empobrecidas. Relações onde nos sentimos o tempo todo ameaçados, presos em um jogo onde “todos me assistem o tempo todo e qualquer passo em falso eu serei desmascarado”. O que resta neste tipo de situação é eu gritar o mais alto possível para que ninguém mais consiga conversar e resolver os problemas como adultos.


Caetano Grippo é artista plástico, fotógrafo e cineasta. Formado em direção cinematográfica pela academia internacional de cinema e artes visuais pela universidade belas artes, atuou em diversas vertentes do cinema como editor, diretor de fotografia, roteirista e diretor.


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