Considero ‘Cidade dos Sonhos’ um dos filmes mais importantes do cinema. Falo do ponto de vista do amante, do artista e do técnico. Há diversos filmes que trabalham o universo dos sonhos, desde os primórdios do cinema, mas este talvez tenha atingido uma experiência muito distinta daqueles que surgiram antes e até hoje não conheço nada tão preciso tecnicamente e esteticamente aterrorizante.
David Lynch o produziu originalmente para ser uma série de TV. Seria o seu novo Twin Peaks, mas o piloto foi completamente rejeitado. Foi assim que durante uma de suas sessões de meditação transcendental que ele afirma ter encontrado a solução estrutural para dar continuidade no projeto e o transformar em um longa-metragem. Eu, particularmente acho que ele simplesmente assistiu Meshes of the Afternoon (Tramas da Tarde) da Maya Deren e encontrou de bandeja o que ele precisava para construir sua obra-prima. Em uma análise precisa entre as duas obras conseguimos encontrar muitos pontos de contato entre elas.
Na primeira experiência, talvez o espectador saia transtornado, odiando o que acabou de ver, afinal, somos conduzidos por quase duas horas através de uma narrativa sedutora, de mistérios e estranhamentos, até que uma reviravolta narrativa nos surpreende e muito dificilmente conseguimos entender racionalmente o que está acontecendo.
Talvez esse seja um dos motivos pelo qual tanta gente odeie o filme e tenha dificuldades de se relacionar com ele, mas garanto que tudo isso que parece ser um filme experimental, na verdade possui uma narrativa rigorosa, cheia de detalhes e esmeros, tão organizada e sincrônica que parece até um relógio suiço. Vale a pena olhar para o filme através dessa ótica e entender melhor como se relacionar com essa obra.
Ps: Essa reviravolta acontece aproximadamente em 1 hora e 57 minutos de filme.
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Sobre o autor do texto: Caetano Grippo é cineasta, artista plástico e professor. No Espaço Rasgo, além de coordenador é idealizador e professor dos cursos de narrativas, fotografia e direção.
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