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João Paulo Paixão: A Materialidade da Memória e a Poética do Efêmero

Foto do escritor: Helen AraujoHelen Araujo


João Paulo Paixão constrói uma obra que transcende a mera manipulação de materiais para adentrar em um universo íntimo, onde madeira, memória e corpo se entrelaçam em diálogos profundos. Formado pelo Centro Universitário Belas Artes de São Paulo e com passagem pelo Laboratório OMA Galeria, seu trabalho se destaca pela investigação de como os vestígios do passado — tanto materiais quanto afetivos — moldam percepções e narrativas no presente. Utilizando principalmente madeira de demolição, colagens tridimensionais e intervenções site-specific, Paixão transforma fragmentos do cotidiano em metáforas visuais da experiência humana.



A madeira de demolição é o eixo central de sua produção. Não se trata apenas de um material sustentável, mas de um suporte carregado de histórias. Em obras como a série Matéria e Memória (2022-2024), os fragmentos de madeira são rearranjados em colagens que evocam a fragmentação das lembranças. Como ele próprio descreve, "os estilhaços representam as lembranças acumuladas, e a obra, a memória em uma totalidade fragmentada". Essa abordagem ecoa a filosofia de Henri Bergson, citado em Suspensão (2024), para quem a memória é um fluxo contínuo, revivido a partir de estímulos presentes.



 
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A escolha da madeira não é casual: suas fissuras, texturas e marcas de uso tornam-se registros tangíveis do tempo. Em (Des)Construção (2024), a serragem compactada simboliza a impossibilidade de retorno ao estado original — assim como o ser humano, que se remodela através das experiências. A materialidade bruta contrasta com a delicadeza conceitual, criando uma tensão entre caos e ordem que reflete a própria natureza da memória.



Paixão não se limita ao objeto final; seu interesse reside no processo. Em Processo e Interação (2023), convida o público a manipular a obra, registrando como as interpretações dos espectadores alteram seu significado. Essa abordagem participativa revela uma visão democrática da arte, onde o espectador completa a narrativa. A instalação com folhas secas e sons ambientais amplia essa ideia, transformando o espaço expositivo em um campo sensorial que evoca memórias coletivas — no caso, as da chácara de seu avô, fonte recorrente de materiais e inspiração.




O corpo do artista também é instrumento. Em Desenho e Memória (2022), ele explora a relação entre repetição motora e criação, traçando linhas que oscilam entre o consciente e o automático. Aqui, o desenho torna-se um registro físico do aprendizado, uma coreografia de gestos que materializa a interioridade.




Sua prática abrange técnicas híbridas: colagens com sementes de cipó-de-imbiri (Caminhos I e II, 2023-2024), esculturas de parede como Grade 1 (2023), e até fotografias documentais (Aquilo que se guarda, 2022). Essa multiplicidade revela um artista inquieto, que desafia categorizações. Em Mensagem Deixada Pelo Meu Avô (2024), a madeira se combina com escrita esferográfica, fundindo palavra e matéria em um testemunho afetivo.




 
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A série Encaixe (2022-2024) sintetiza essa busca por conexões: peças de madeira se articulam como quebra-cabeças, simbolizando a organização mental das memórias. Cada encaixe é uma metáfora de como fragmentos dispersos se unem para compor identidades.


A obra de Paixão dialoga com tendências contemporâneas que valorizam a arte processual e a ecoficção (uso de materiais orgânicos e reciclados). No entanto, seu diferencial está na imbricação entre o íntimo e o coletivo. As madeiras de seu avô, as sementes colhidas na infância e até os pregos enferrujados são ressignificados como arquivos pessoais, mas também como símbolos de ciclos naturais e históricos.


Exposições como O Coração da Madeira (2023) e A Beleza (Desútil) da Madeira (2024) reforçam essa dualidade. Nelas, o público é confrontado com a fragilidade da matéria e a permanência do afeto. A madeira, em seu estado desfigurado, torna-se um espelho da condição humana: efêmera, mas resistente.

João Paulo Paixão constrói uma cartografia poética onde memória e matéria são territórios a serem explorados. Sua obra não apenas questiona como lembramos, mas como transformamos o passado em ferramenta para o presente. Cada colagem, cada objeto, é um convite a revisitar histórias pessoais e coletivas, reconhecendo que a beleza reside tanto na construção quanto na desconstrução.


 
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Em um mundo marcado pela aceleração e pelo descarte, seu trabalho lembra que mesmo o que parece fragmentado ou esquecido carrega potencial de renascimento. Afinal, como Bergson ensina, é no presente que as memórias ganham vida — e Paixão, ao reconfigurar madeiras antigas em novas formas, nos oferece um caminho para reencontrar o calor dessas lembranças.


 

Helen Araújo é jornalista graduada pela Casper Líbero e em Artes Visuais pela Faap. Estudou direção em cinema no Instituto del Cine em Madrid.


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