
Desde que “Ainda Estou Aqui” ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, tem se falado muito sobre como podemos melhorar a indústria cinematográfica brasileira. Inclusive publicamos, aqui, um texto com alguns palpites e informações. A formação de público é, obviamente, fator importantíssimo na equação. Se já é difícil, ficando restrito às salas de cinema e aos streamings oficiais, conhecer e assistir qualquer coisa que não sejam os grandes blockbusters hollywoodianos, imagine a dificuldade de se aprofundar no cinema nacional.
Por isso, para quem quer conhecer mais a própria cultura, entender o nosso passado e nosso presente no audiovisual, criamos esta lista. Nela, citamos alguns livros essenciais sobre cinema brasileiro, assim como formas de assistir aos filmes oficial e (melhor ainda) gratuitamente. Esperamos que gostem!
Livros
- Nova História do Cinema Brasileiro (Volumes 1 e 2)

Organizado por Fernão Pessoa Ramos e Sheila Schvarzman, esses dois calhamaços (só o primeiro volume tem mais de 700 páginas), fazem um panorama detalhadíssimo sobre toda a história do nosso cinema. São discutidos em profundidade temas como “qual é o primeiro filme feito aqui?” e “qual a importância do estado na produção audiovisual”, por exemplo.
O primeiro volume é dividido tanto temporalmente quanto regionalmente. Então, podemos entender o que acontecia em diferentes regiões do país, como Rio Grande do Sul, Pernambuco e Minas Gerais. Além, claro, da época dos estúdios Cinédia, Atlântida e Vera Cruz e do Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE), gestado pelo governo Getúlio Vargas. A segunda parte trata do Cinema Novo, Cinema Marginal, as brigas entre a Boca do Lixo e a censura, entre outros assuntos até chegar no cinema contemporâneo.
Devem ser os livros mais completos sobre o assunto, dando a conhecer o que já produzimos que está preservado e o que está perdido, quais nomes ajudaram no desenvolvimento da indústria e atualizando discussões que os novos estudos revelam sobre o assunto.
- Cinema: Trajetória no Subdesenvolvimento

Paulo Emílio Sales Gomes é um dos principais nomes dos estudos sobre o cinema brasileiro, sendo “Trajetória no Subdesenvolvimento” seu livro mais famoso. Gomes não só estudou como viveu boa parte da história do nosso cinema. Talvez, por isso, ele seja tão importante em uma luta que ele mesmo colocava como “descolonização”, contra a cinefilia estrangeira.
Neste livro, o professor trata desde a chegada do cinema no país até os anos 1960. Foi ele, por exemplo, que fixou a filmagem de Afonso Segreto como o primeiro filme feito em terras tupiniquins, ainda que a nova historiografia coloque essa informação em cheque. É aqui, também, que ele explica a ideia da “Idade de Ouro” da produção nacional, de 1908 a 1911.
Para entender uma primeira visão acadêmica sobre o cinema nacional, é preciso ler este livro.
- Cinema brasileiro: propostas para uma história

Jean-Claude Bernardet, belga naturalizado brasileiro, começou a escrever críticas no Estadão a convite de Paulo Emílio, o que demonstra que ele seria já uma atualização das ideias do mestre, contribuindo para evoluir o pensamento sobre cinema brasileiro.
Bernadet tem vários livros publicados, sendo difícil escolher um só, mas “Propostas para uma história” parece ser uma boa escolha. Aqui, ele discute o nosso cenário cultural e cinematográfico a partir de como se deu a nossa indústria. Um dos conceitos importantes que aparecem, por exemplo, é o de “cavação”, ou seja, como os cineastas e estúdios buscavam acordos com os governos para produzir filmes de propaganda para usar deste dinheiro e realizar as próprias obras.
Todos os livros de Bernadet são essenciais para quem gosta de cinema.
- Alegorias do subdesenvolvimento: Cinema novo, tropicalismo, cinema marginal

O livro do professor Ismail Xavier aborda a virada moderna do cinema brasileiro e a relação com outros movimentos artísticos do período, além, é claro, do lugar social e político desses movimentos.
A partir de uma visão que relaciona estética e política, Xavier discute as representações que vemos nas telas. Por exemplo, como mudou a forma de abordar temas como a migração, a ordem familiar e a violência nas grandes cidades. Além disso, trabalha a ideia de que o cinema brasileiro se utiliza da alegoria para mostrar uma série de “iniquidades, incongruências, anomia, violência, fragmentação ou incompetência constitutiva” na nossa formação de nação.
Onde assistir, de graça, o cinema nacional?
- YouTube:
O YouTube está lotado de filmes de todos os países, inclusive nacionais, nas mais diversas qualidades. Obras essenciais para o nosso cinema, como o mítico “Limite”, de Mário Peixoto, é encontrado restaurado e em alta definição no site. Lá é possível assistir aos filmes do cinema mudo, o período sonoro de chanchadas e os exemplares do cinema modernista. Sempre que quiser assistir a um filme brasileiro, vale procurar no YouTube.
- Banco de Conteúdos Culturais da Cinemateca Brasileira:
A Cinemateca Brasileira possui um grande acervo de conteúdos digitais, com diversos filmes restaurados e digitalizados para acessar gratuitamente. Além dos filmes, há cartazes, fotos e textos disponíveis para consulta.
Uma área muito legal do site é a de Coleções, onde é possível acessar o conteúdo de mesma temática, como os filmes do estúdio Atlântida ou dirigidos por Glauber Rocha, contando ainda com textos didáticos discorrendo sobre cada uma das coleções.
- SESC Digital
Além de um acervo de discos, apresentações teatrais, musicais, de dança, palestras e exposições, o site do SESC Digital possui um streaming de filmes. Lá, é possível encontrar obras de várias nacionalidades e de difícil acesso, incluindo clássicos do cinema brasileiro.
É legal acompanhar pelo Instagram o catálogo, já que alguns filmes fazem parte do acervo fixo e outros têm data de exibição.
Deixo aqui a forte recomendação, também, das palestras e cursos disponíveis na plataforma.
Bônus:
A Cinemateca Brasileira realizará um curso sobre o Cinema Brasileiro nos anos 80 e 90, durante os dias 21 a 29 de março, com aulas presenciais que serão transmitidas, também, pelo YouTube. Segue o anúncio:
“Nos dias 21, 22, 28 e 29 de março, a Cinemateca Brasileira realiza o curso CINEMA BRASILEIRO ANOS 80 E 90, ministrado pela professora do Departamento de Cinema da Universidade Federal Fluminense (UFF), Lúcia Ramos Monteiro.
O curso é gratuito e faz parte da mostra homônima, que acontece de 20 a 30 de março.
Divididas em 4 encontros e com tradução simultânea em Libras, as aulas abordam as diferentes facetas do cinema brasileiro nos anos 1980 e 1990.
O curso terá 150 vagas presenciais, com inscrição prévia por meio de formulário online a partir das 10h do dia 10 de março. O certificado será distribuído somente para inscritos pelo formulário e que comparecerem a pelo menos 3 aulas.
Vagas adicionais distribuídas por ordem de chegada 1h antes do início de cada aula. Haverá tradução simultânea em Libras e as aulas também serão transmitidas ao vivo pelo canal da Cinemateca Brasileira no Youtube.
Mais informações no site da Cinemateca Brasileira.”
Eric Campi (@ericcampi_) é jornalista e pós-graduado em Audiovisual. Já trabalhou em diversos veículos de jornalismo cultural, como na Revista CULT e nos sites Wikimetal e MadSound.
Comments