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Foto do escritorCaetano Grippo

Meu Pai: qual o verdadeiro valor de uma obra de arte?

Aqui no Espaço Rasgo você irá encontrar um texto escrito por Caetano Grippo a respeito do filme "Meu Pai" (The Father, 2020), dirigido por Florian Zeller. Você pode ler o texto clicando aqui.

A crítica oferece uma análise perspicaz e meticulosa sobre a estrutura narrativa do filme. Sua reflexão sobre os elementos dramatúrgicos e cinematográficos utilizados para retratar a experiência da demência através dos olhos do protagonista, Anthony, revela uma profunda apreciação pela complexidade e pelas nuances da obra. Ao ler seu texto, senti-me instigada a participar do diálogo, não apenas para discutir suas observações críticas, mas também para ampliar a discussão, explorando diferentes perspectivas e aspectos da narrativa cinematográfica. A análise despertou em mim um desejo genuíno de mergulhar mais fundo na temática do filme e de compartilhar reflexões complementares sobre sua narrativa e, principalmente, seu impacto emocional.

Caetano destaca como a estrutura do filme é fundamental para transmitir a confusão mental e a desintegração da realidade experimentada por Anthony devido à demência. A narrativa fragmentada e não linear reflete sua própria percepção fragmentada do tempo e da identidade, enquanto ele luta para distinguir entre passado e presente, entre memória e alucinação.

A análise levanta questões sobre a coerência interna da estrutura narrativa, apontando possíveis inconsistências que podem surgir quando se considera a reencenação dos eventos passados sob o ponto de vista de Anthony. Grippo pondera sobre os momentos em que personagens do presente assumem as características de figuras do passado na mente confusa de Anthony, questionando como essas reconstruções se encaixam na trama e se algumas dessas escolhas podem ser vistas como artifícios cinematográficos em vez de elementos dramatúrgicos genuínos.

Embora ele ofereça essa análise meticulosa da estrutura narrativa de "Meu Pai", sua crítica pode ser considerada excessivamente centrada em detalhes técnicos, negligenciando a riqueza emocional e temática que o filme evoca, independentemente do entendimento dos detalhes que ele aponta. Ao se fixar em possíveis inconsistências na representação da demência através da perspectiva de Anthony, Grippo parece perder de vista o objetivo principal da obra, que é transmitir a experiência angustiante e desorientadora da demência não apenas para o protagonista, mas também para o espectador. Sua abordagem crítica, embora válida em certa medida, corre o risco de reduzir a complexidade e a beleza da narrativa a uma mera análise estrutural, deixando de reconhecer a profundidade emocional e filosófica que o filme oferece.

Além disso, ao enfatizar possíveis falhas de direção e roteiro, Grippo parece subestimar a habilidade dos realizadores em empregar elementos cinematográficos para transmitir a confusão e a fragmentação da mente de Anthony de uma forma visualmente impactante. Embora algumas escolhas possam parecer arbitrárias à luz de uma análise estritamente lógica, é importante lembrar que o cinema, como forma de arte, frequentemente recorre a simbolismos e metáforas para expressar temas e emoções complexas. Portanto, em vez de buscar uma coerência estrutural absoluta, talvez seja mais produtivo valorizar a capacidade do filme em criar uma experiência imersiva e visceral que ressoa emocionalmente com o público, mesmo que isso signifique sacrificar algumas convenções narrativas tradicionais.

Ao considerar o texto de Caetano Grippo, é importante reconhecer os motivos pelos quais ele levanta suas questões críticas em relação à estrutura narrativa de "Meu Pai". Grippo parece estar genuinamente interessado em explorar a coesão interna da obra e sua capacidade de transmitir de forma autêntica a experiência da demência. Por exemplo, ao questionar como a representação de personagens do passado se encaixa na perspectiva fragmentada de Anthony, ele busca entender como essas escolhas afetam a compreensão global do espectador sobre a narrativa. Sua abordagem cuidadosa sugere um desejo legítimo de analisar o filme em profundidade e de considerar seu impacto tanto no nível emocional quanto no nível estrutural.


Entretanto, apesar dessas reflexões críticas, o texto ressalta que tais questões não diminuem a impactante experiência emocional proporcionada pelo filme. A atuação excepcional de Anthony Hopkins e Olivia Colman, aliada à poderosa atmosfera criada pela direção e pelo roteiro, transcende as possíveis falhas estruturais, permitindo ao espectador mergulhar profundamente na jornada emocional de Anthony e sua filha Anne.

No cerne desse debate está a importância da lógica interna de uma narrativa, que serve como um guia para os realizadores na construção de uma história coesa e significativa. Mesmo diante de imperfeições, "Meu Pai" continua a ser um exemplo vívido de como uma estrutura narrativa complexa pode amplificar a compreensão e a empatia em relação a questões tão delicadas quanto a demência e o envelhecimento.


 

Helen Araujo é jornalista e crítica cultural.





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