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Foto do escritorClara Lindorfer

Oito quadrinhos que você precisa ler.

Atualizado: 15 de ago. de 2022



“Nova York - A Vida na Grande Cidade”

Autor: Will Eisner

Ano: 2000

Will Eisner foi um quadrinista americano, mais conhecido pela sua grande influência na criação dos quadrinhos no formato que conhecemos hoje. Seu livro "Um Contrato com Deus" (1978) é tido como a primeira Graphic Novel e representou uma mudança sem precedentes no público interessado por histórias contadas em arte sequencial, essas que até então eram reservadas apenas para os gibis de super-heróis voltados ao público infantil. Pela qualidade icônica de seu trabalho, Eisner teve seu nome atribuído ao prêmio que é concedido até hoje a quadrinistas pelo conjunto de sua obra, o Prêmio Will Eisner.

Em "Nova York", retrata crônicas sobre a cidade, ilustrando com crueza os aspectos mais peculiares das relações humanas na grande metrópole, utilizando como palco elementos aparentemente corriqueiros da cidade, como bueiros, escadas de prédios e o metrô. O livro é um modelo excepcional dos aspectos mais interessantes do trabalho de Eisner, contando com roteiros criativos, enquadramentos cinematográficos e uma utilização primorosa da linguagem narrativa dos quadrinhos através dos desenhos.



“Palestina”

Autor: Joe Sacco

Ano: 2001

Nascido em Malta, em 1960 e tendo se mudado para os Estados Unidos aos 12 anos, Joe Sacco revolucionou o mundo dos quadrinhos pela combinação de sua formação em jornalismo e a sua paixão pelas histórias desenhadas. Interessado pela guerra e pelo efeito que ela causava nas pessoas, deu início ao que se convencionou chamar de “quadrinhos jornalísticos” com seu livro “Palestina”, em que conta as histórias sobre o conflito entre palestinos e israelitas na faixa de Gaza durante os eventos da Segunda Intifada.

No livro repassa os mais de 100 relatos coletados por ele, de árabes e judeus vítimas do conflito, durante os dois meses que esteve na região, tudo isso mesclando de forma única a imparcialidade do jornalismo com a subjetividade pessoal das narrativas em quadrinhos.



“Gênesis”

Autor: Robert Crumb

Ano: 2009

Um ícone da contracultura da década de 60, Crumb é conhecido pela qualidade satírica e escatológica de seu trabalho. Abordando temáticas sexuais e psicodélicas, com um estilo irreverente e fortemente inspirado pelos desenhos animados das décadas de 1920 e 1930, foi o autor de séries de quadrinhos underground como "Fritz the Cat" e "Mr. Natural".

Em 2009, após quatro anos de produção, Crumb lança o livro "Gênesis" que, ao contrário do que se esperava baseado na proposta estética e temática do autor, veio acompanhado de um estilo gráfico menos caricatural e com pouquíssimas alterações no texto bíblico original. Entretanto, ao reorganizar a narrativa e simplesmente submeter o texto a uma interpretação estética crua e implacável, coloca sob julgo as ações dos homens e de Deus, como retratadas pelo livro sagrado, atribuindo um ácido juízo de valor sobre o texto que é tão frequentemente interpretado de



“Persépolis”

Autora: Marjane Satrapi

Ano: 2000

De caráter autobiográfico, o livro cujo nome faz referência à antiga capital persa, retrata a juventude da autora no Irã e o processo de sua expatriação decorrente da Revolução Islâmica. Filha de uma família moderna e de mente aberta, Marjane traça um potente retrato da incongruência entre a forma como fora criada e os novos hábitos que teve de desenvolver em função da ascensão de um estado autoritário guiado por extremismo religioso, com a queda do Xá.

Dividido em dois volumes, a primeira parte nos leva a acompanhar os eventos sob a ótica infantil de Marjane, que não compreende bem as novas regras de seu mundo, como a necessidade de usar a burca, de se afastar de seus antigos amigos e a reclusão de sua família em função do pensamento crítico ao regime. Ao acompanhar seu amadurecimento ao longo dos livros, entretanto, somos expostos a uma mulher progressivamente mais politizada, que é expatriada e revisita os acontecimentos e seu país e seus próprios hábitos sob uma ótica mais crítica, mas que nunca perde a fluidez e o bom humor.

Em 2007, com direção da própria autora, o clássico dos quadrinhos ganhou sua adaptação animada para o cinema, que se mantém permanentemente atual.



“Laços”

Autores: Vitor e Lu Cafaggi

Ano: 2013

Como parte do projeto Graphic MSP, é parte do universo de publicações que contam com os personagens da Turma da Mônica, cujos direitos autorais foram cedidos aos quadrinistas nacionais em 2009, para que criassem suas próprias histórias reinterpretadas a partir do legado de Maurício de Sousa.

O livro conta a história da turma em uma missão para resgatar o desaparecido Floquinho, através de um plano infalível de Cebolinha. Dotada de uma sensibilidade narrativa particular e um estilo gráfico belíssimo e complementar de ambos os irmãos, a história faz homenagem aos filmes infantis dos anos 80, contando com a fuga de valentões, conversas sobre super-heróis ao redor de uma fogueira a noite, enfrentamento dos medos e uma reflexão sobre amizade, companheirismo e amadurecimento. A história é acompanhada de duas sequências que encerram a trilogia, "Lições" e "Lembranças", lançadas respectivamente em 2015 e 2017, além de uma adaptação para o cinema em 2019, dirigida por Daniel Rezende.



“Jimmy Corrigan, o Menino Mais Esperto do Mundo”

Autor: Chris Ware

Ano: 2000

Um impressionante retrato da complexidade da mente, a história de Jimmy Corrigan narra o evento na vida de um deprimido homem de meia idade que recebe uma carta de seu pai desconhecido e parte em uma viagem para encontrá-lo. Todo o episódio serve apenas para reforçar o sentimento de deslocamento que o protagonista sente ao redor de sua recém descoberta família, ao mesmo tempo que traz à tona aspectos esquecidos de sua infância.

O mais interessante traço do livro, entretanto, refere-se menos à história narrada em si e muito mais à forma brilhante com que Chris Ware foi capaz de transmitir o potencial da mente para se desprender dos eventos da vida real. Sem fazer nenhuma cerimônia sobre os momentos em que a narrativa transita entre realidade, sonho, devaneio e memórias, somos levados a acompanhar uma aventura pouco linear, frequentemente fantasiosa e, em alguns momentos quase desprovida de sentido, mas que nunca nos permite esquecer a atmosfera de tristeza, monotonia e claustrofobia que acompanha Jimmy em sua mente e em sua vida.

Aproveitando-se do atributo narrativo mais importante dos quadrinhos, a utilização do tempo e espaço na página, Ware distribui os quadros de sua história em uma cronologia intrincada que brinca com a forma tradicional da leitura e favorece a sensação de absurdo que experimentamos ao lado do protagonista.



“Little Nemo”

Autor: Winsor McCay

Ano: A partir de 1905

Little Nemo é o personagem principal de uma série de tirinhas que foram publicadas nos jornais "New York Herald" e "New York American" entre os anos de 1905 e 1911. Todas as histórias são curtas, contendo pouca ou nenhuma fala e operando sempre de acordo com a mesma dinâmica: Nemo dorme, sonha, vive sua aventura dentro do universo onírico e acorda sobre a sua cama ou próximo dela. Apesar da premissa simples, as histórias fantásticas ficam muito longe de serem limitadas ao público infantil, passando por episódios que são frequentemente ameaçadores e sombrios, que convertem-se rapidamente em pesadelos para o menino.

Apesar de terem feito pouco sucesso na época, as histórias contam com uma sensibilidade singular e, apoiadas pelo estilo gráfico delicado de McCay, propõe uma elaborada e gradual transição entre o mundo desperto e o sonhar, na qual os elementos materiais vão lentamente se transformando e se incorporando à fantasia, aos medos e aos anseios com os quais lidamos em sonhos.



“O Melhor que Podíamos Fazer”

Autora: Thi Bui

Ano: 2017

Sob a descrição de “memórias gráficas”, a autora procura relatar os eventos da história de sua família no formato de quadrinhos. Revisitando as memórias dos avós, dos pais e dela própria, conta as três gerações de história que levaram sua família do Vietnã aos Estados Unidos, fugindo da guerra que desmontou seu país. O livro existe como uma reflexão sobre as cicatrizes emocionais deixadas pela própria história, iniciando a partir de um momento marcante na vida da autora: o parto de seu primeiro filho. O evento a leva a se indagar sobre como seria a vida dele, se estaria fadada ao mesmo legado de sombra e sofrimento que pairou sobre todos aqueles que vieram antes, desencadeando a narrativa.

O aspecto gráfico do desenho que ilustra essas memórias é denso e carregado, sendo quase totalmente apresentado em preto e branco. A única exceção para a cor é o laranja, que pinta elementos em todas as páginas, fazendo referência ao agente laranja, um herbicida altamente cancerígeno que foi despejado pelos aviões americanos em solo vietnamita durante a guerra, destruindo o habitat natural e deixando profundas sequelas na população do país.


***

A AUTORA: Clara Lindorfer é formada em Arquitetura pelo Politécnico de Milão e designer gráfica desde 2012. Trabalhou com criação de identidade visual, sites e artes gráficas para diversas empresas e profissionais autônomos. Em arquitetura já foi premiada nas competições internacionais "Kaira Looro" e "Rural School in Haiti".



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