Contato inicial com a arte
Anita Catarina Malfatti nasceu no dia 2 de dezembro de 1889, em São Paulo. Iniciou seus estudos na arte com a sua mãe, Bety Malfatti (1866 - 1952) que, após a morte do marido, passou a dar aulas de pintura para sustentar a família. Devido a uma atrofia congênita no braço e na mão direita, Anita utilizava a mão esquerda para pintar.
Em 1910, Anita viajou para a Europa para aprimorar sua formação artística, ingressando na Academia Imperial de Belas Artes de Berlim, na Alemanha. Apesar do começo de seus estudos seguirem uma linha tradicional, a estadia da artista na cidade permitiu que a mesma entrasse em contato com a agitação modernista.
Interessada pelas novas linguagens e possibilidades da arte, a artista participou de aulas com o pintor Fritz Burger-Mühlfeld (1867-1927), estudando o pós-impressionismo alemão. A partir desse período, Anita passou a se interessar por movimentos de vanguarda, tal como o expressionismo.
Em 1914 ela retornou a São Paulo e fez uma exposição na Casa Mappin. Em 1915, foi para Nova Iorque, onde estudou na Arts Students League e na Independent School of Art. Foi nessa época que pintou quadros que viriam a ser famosos como A Boba (1915/1916), O Homem Amarelo (1915/1916) e O Farol (1915). Seu traço começou a ganhar um sentido mais interpretativo, menos real.
A Boba (1915/1916)
De volta ao Brasil, em 1917, ela passou a utilizar desse traço mais desprovido da realidade para realizar pinturas voltadas a temáticas nacionais. No mesmo ano, com incentivo de amigos como Di Cavalanti, ela realizou uma única exposição com suas obras. Apesar da aproximação com os artistas e intelectuais modernos brasileiros, Anita foi alvo de críticas, inclusive do escritor Monteiro Lobato (1882-1948), que publicou o artigo “A Propósito da Exposição Malfatti” (1917), dizendo que não gostou nada do que viu. Todavia, o escritor Oswald de Andrade (1890-1954) publicou no Jornal do Comércio, em 1918, um artigo em defesa da pintora.
O Homem Amarelo (1915/1916)
A Semana de Arte Moderna
Após o período de críticas e reações, Anita voltou à pintura mais tradicional, se afastando do universo artístico. Contudo, por volta de 1921, voltou a se interessar pelas linguagens de vanguarda, encorajada pelos membros Grupo dos Cinco, formado por Tarsila do Amaral (1886/1973) e Anita Malfatti, e pelos escritores Mário de Andrade (1893-1945), Oswald de Andrade (1890-1954) e Menotti del Picchia (1892-1988).
Assim, exibiu 20 de seus trabalhos, todos de cunho modernista, durante a Semana de Arte Moderna, que ocorreu de 13 a 17 de fevereiro de 1922. O saguão do Teatro Municipal de São Paulo esteve aberto com obras de Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Harberg Brecheret, entre outros.
De volta aos estudos: o reconhecimento internacional
Logo depois da movimentação e contato com os amigos artistas vanguardistas, Anita recebeu a bolsa do Pensionato Artístico do Estado de São Paulo e viajou para Paris, onde estudou com o pintor Maurice Denis.
Nessa época, a artista viajou pela Europa, inclusive encontrando amigos, entre eles Zina Aita e Yan de Almeida Prado, que participaram da Semana de Arte Moderna de 1922, e realizou exposições individuais em lugares como Berlim, Paris e Nova York.
Interior de Mônaco (1925)
No tempo em que ficou fora, também passou a pintar com outros estilos, distanciando-se um pouco do modernismo e focando em cenas interiores, produzindo obras como Interior de Mônaco (1925) e La Rentrée (1927).
O retorno ao Brasil
A Estudante (1915)
Em 1928 regressou ao Brasil, focando novamente em temas mais regionalistas em sua pintura. Na década de 1930, Anita passou a fazer parte da Sociedade Pró-Arte Moderna e, com interesse por artes mais fluentes e descompromissadas, participou do Salão Revolucionário (1931), onde se aproximou do grupo de pintores da Família Artística Paulista (FAP), que incluiu nomes como Paulo Rossi Osir, Waldemar da Costa e Paulo Mendes de Almeida.
Dos anos 40 para frente, ela passou a focar na pintura do cotidiano. Em 1949 realizou sua primeira exposição MASP, onde doou sua obra A Estudante para o acervo do museu. Em 1951, participou da 1a Bienal Internacional de São Paulo. Dando aulas e pintando, Anita seguiu no mundo artístico até o fim da vida.
Anita Malfatti faleceu em 6 de novembro de 1964, em São Paulo. Foi uma das introdutoras do movimento modernista no Brasil, mas seu vasto trabalho abrange várias linguagens e experimentações artísticas, deixando um grande legado para a arte brasileira.
Atualmente, seus quadros estão espalhados pelo país, como no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, onde se encontra “A Boba” e no Museu Nacional de Belas-Artes, no Rio de Janeiro.
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